DOS ARQUÉTIPOS DA VIOLÊNCIA COLONIAL À NECROPOLÍTICA À BRASILEIRA

Eder Rossato
Mestre em Políticas Públicas (PPP/DCS/UEM). Atualmente é doutorando em História – linha de pesquisa: História Política (PPH/DHI), pela Universidade Estadual de Maringá, orientado pelo Prof. Dr. Ângelo Priori – UEM/DHI.

Resumo:

As grandes desigualdades no Brasil trata-se de uma condição socialmente construída, cuja violência, marginalização e discriminação que produz expõe uma “necropolítica à brasileira” lastreada em arquétipos que remontam a era colonial, segundo categoria descrita na literatura sobre necropolítica.

Palavras-chave: Brasil, necropolítica, Mbembe, violência.



Comentários

  1. Importante trabalho, no contexto acadêmico científico da região norte, mais particularmente me referindo ao Pará, percebo que precisamos amadurecer nossa avaliação sobre a implementação das leis que teoricamente deveriam produzir acesso, mitigando os efeitos das desigualdades.
    Em Belém, durante minha pesquisa percebi o lastro de omissão que reverbera nas políticas educacionais, pela promoção e afirmação da pauta étnico-racial.

    Pensando na tua afirmativa sobre que "O fato é que a histórica macro e necropolítica brasileira leva grandes meios de comunicação a se associarem a um portfólio de terror e horror que informa (sem explicar a contento)". Omissão intencional de políticas públicas = necropolítica. Pensando ainda nesses arquétipos coloniais que se ressignificam pela manutenção da colonialidade do poder, e no jornalismo que "informa sem explicar a contento", como vês epistemologicamente a discussão dessa crise ética, nos fazeres da tua pesquisa?

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    1. Fernanda, obrigado por suas colocações cuja pergunta que traz em seu bojo é profunda, instigante e salutar. Como sabemos, historicamente, não houve no Brasil significativa alternância de poder e de interesses. Via de consequência, como vimos no artigo, o poder soberano deste Estado perpetua o controle de poucos e abastados grupos hegemônicos que subjugam uma imensa maioria, de modo a manterem à “ferro e fogo” seu status quo. Assim, dispõem de monopólios e/ou oligopólios, a exemplo dos meios de comunicação que atuam, subliminar e diuturnamente, na defesa da referida macro e necropolítica brasileira, de modo a produzir relações de inimizades e de perseguições que avoca o direito de “matar”, discriminar e marginalizar de forma a criar “mundos de e cortes aceitáveis de mortes” constituídos, especialmente, por grupos e coletivos mais vulneráveis.
      Desde logo e diante disto, ao estudar acerca dos arquétipos de “colonialidade” deste necropoder afiançado por uma sistemática alienação produzida pela mídia hegemônica, tradicional e coorporativa, minhas reflexões à luz de abordagens epistemológicas contemporâneas, criticamente, considerada a crise ética gerada por esta estrutura e contexto entendendo que devemos fortalecer e construir a cada dia, mais e mais, pesquisas e canais formativos e informativos alternativos, guiados por uma epistemologia, que primeiramente compreenda que a ciência não expressa um saber ontológico, mas, histórico construído, como nos ensina Gaston Bachelard, em sua epistemológica histórica. Enfim, esta abordagem, primeiramente, não deve se voltar a expressar uma realidade que supostamente preexista ao processo cognitivo, mas, que seja capaz de abordar o mundo vivido a partir de uma abordagem racionalmente dinâmica, apta a retificar-se. Já, em um segundo momento, a discussão desta crise ética à luz de princípios epistemológicos contemporâneos, deve orientar a criação de estudos, meios e canais alternativos de comunicação que entendem que a ciência produz ideias que não são neutras, pois o saber produzido e socializado está umbilicalmente vinculado a relações de poder, como nos ensina a abordagem epistemológica crítica de trabalhos de como o de Habermas e Foucault. Em seu texto Conhecimento e interesse (1982), Habermas, nos ensina: “Todo conhecimento é posto em movimento por interesses que o orientam, dirigem-se, comando-no” (p.12)

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    2. Gratidão...Vou acompanhar teus trabalhos, tua escrita é importante, transita de forma dinâmica conectando diversos temas que são de meu interesse. Sucesso!

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    3. Muito obrigado!
      Sou apaixonado por esse tema.

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  2. Boa tarde. Muito oportuno o texto. O estudo acerca dos números do coronavírus confirmam, em tempo real, a triste realidade do artigo. Tenho duas perguntas.
    A necroplítica pode encontrar uma resposta na própria política?
    Você considera as ações afirmativas como meio adequado ao combate da necropolítica?
    Marcos Roberto Costa Candido

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    1. Marcos Roberto, obrigado pelas suas interessantes e pertinentes perguntas.
      Buscando responder a suas indagações, inicialmente, gostaria de retomar o conceito de necropolítica, delineado por Achille Mbembe. Como vimos trata-se de uma categoria de analise que expressa o uso do poder político do Estado voltado a determinar vida para alguns e a morte para outros. Para tanto, entre outras palavras, retrata um sistema que “aciona mecanismos” desiguais de distribuição de oportunidades. Esses mecanismos, senão todos, são desencadeados por motivações políticas que direta ou indiretamente submetem a maioria da população, por exemplo, a uma educação pública precária e, por via de consequência, alimenta o “sistema” de uma população com baixa qualificação, mantendo, com isto, uma espiral de pobreza, discriminação e exclusão. E pior disto e, mais cruel, é que dito “sistema” atribui o insucesso social causada às próprias vítimas, responsabilizando-as em um processo de produção de violência secundária ou de revitimização.
      Portanto, se a “política” pode acionar mecanismos que elencam quem deverá “morrer”, também pode promover amplos meios e modos de promoção de vida com qualidade e dignidade. Neste sentido, em resumo, buscando responder as suas perguntas, entendo que a necropolítica pode e deve ser superada dentro do campo político e, que uma forma combater de forma mais imediata as agruras de grupos mais vulneráveis pode se dar por meio da implantação/ampliação de políticas afirmativas destinadas, por exemplo, a grupos que sofrem discriminação étnica, racial, de gênero, religiosa dentre outros, promovendo com qualidade uma inclusão educacional e socioeconômica.

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  3. Olá Muito bom seu texto. Sobre a naturalização da violência contra a população negra, como voce enxerga a estrutura social brasileira atualmente pautada no racismo digital e na sua silenciosa exclusão escancarada na pandemia da Covid-19? Seria o combate a essa pandemia um modelo necropolitico?
    Marcos José Soares de Sousa

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    1. Marcos José, suas indagações estão diretamente relacionadas ao texto, e são extremamente pertinentes.
      Assim, em resposta as suas indagações, acredito e dados apontam que o enfrentamento à atual pandemia se trata de outro exemplo da vigência deste modelo necropolítico, voltado a atentar, essencialmente, contra grupos socialmente vulneráveis e, de especial modo, a atentar contra os pobres e negros deste país. Neste sentido, no corpo do artigo, ao tratar sobre o modo de combate à COVID-19 no Brasil, apontou-se que um grupo que sofreu e sofre, de forma silenciada, com esta operante necropolítica do Estado brasileiro foram e são os negros.
      Tal afirmativa é corroborada ainda mais, ao cruzar escolaridade com raça, pois: “pretos e pardos sem escolaridade tiveram 80,35% de morte, contra 19,65% dos brancos com nível superior”. Já com relação a naturalizada e silenciada violência contra a população negra em relação a atual estrutura social brasileira pautada pelo racismo digital o que poderia dizer, como nos ensina, a colunista da UOL, Akin Abaz (2021), em artigo “Racismo nas mídias digitais tem tantos nuances que talvez você nem perceba”. Não percebam, por falta de conhecimento geográfico, desinteresse, preconceito ou simplesmente falta de humanização “... muitos pessoas não-negras ainda acreditam que a África é um país e não um continente”.
      Ademais, nesse sentido, como nos explica e ensina Abaz (2021): “Com o surgimento da internet e das redes sociais, que se tornaram parte do nosso dia a dia...” e, nessa esteira os aplicativos permitem compartilhamento, transformando-a como uma extensão do dia a dia e por sua vez uma extensão e “espelho da sociedade”. Espelho que compartilha “situações e movimentos benéficos” mas também “os sistemas e processos desiguais como o racismo”. E ao tratar de racismo nas redes, faz-se necessário traçar seu viés dentro das plataformas, perfis, imagens e ironicamente, por exemplo profissionais não negros (influencers e produtores) - que trabalham com conteúdo negros – ganham mais do que os negros, desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho.

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  4. Excelente texto. Gostaria de saber se a desigualdade presente na sociedade tem uma relação história ou se trata de uma condição política?

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