A HISTÓRIA DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: DOS CURSOS PREPARATÓRIOS E EXAMES DE ADMISSÃO AO SURGIMENTO DO VESTIBULAR

Eder Rossato
Mestre em Políticas Públicas (PPP/DCS/UEM). Atualmente é doutorando em História – linha de pesquisa: História Política (PPH/DHI), pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), orientado pelo Prof. Dr. Ângelo Priori – UEM/DHI.

Resumo:

O processo de escolarização no Brasil, desde suas origens, desenvolveu-se mediante o uso de constantes formas de avaliação, seleção e exclusão. Por isso, historicamente, pautou-se por processos meritocráticos de natureza seletiva, tais como os exames de admissão, cursos preparatórios e os chamados vestibulares habilitatórios e classificatórios.

Palavras-Chaves: Meritocracia; Exames de Admissão; Cursos Preparatórios, Vestibular.


Comentários

  1. Parabéns pelo trabalho.
    Acredito que esses cursos preparatórios são verdadeiras indústrias para arrecadar dinheiro. Atualmente, tudo se trata de cursinhos preparatórios, seja para adentrar em um concurso, conseguir aprovação na Ordem dos Advogados, e etc.
    Qual o seu olhar, sob a perspectiva das nossas crianças no futuro, com essa fábrica de formar apenas os que possuem elevada renda?

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    1. Márcia, eu que agradeço a atenção e as observações!
      Com relação aos seus comentários quanto aos cursos preparatórios tradicionais como sendo “verdadeiras indústrias para arrecadar dinheiro”, infelizmente, não deixa de ser uma triste realidade, pois tais cursinhos acabam sendo utilizados também como mais um “meio” para realizar uma “pré-seleção”, já que o critério de acesso é dispor de meios econômicos para frequentar tais cursos – tipo Pré-Vestibulares.
      Assim, dentro do escopo e recorte historiográfico teórico abordado no presente artigo o objeto da pesquisa é refletir sobre a origem e as consequências desses processos meritocráticos de seleção – na forma discorrida como essa seleção e pré-seleção que já teve sua “semente” plantada a décadas ou melhor remontam desde a era imperial brasileira – através dos chamados “cursos e exames preparatórios”.
      Portanto, as interfases históricas abordadas buscam refletir, inclusive, desde uma perspectiva mais ampla tendo como ponto de partida a educação pública como um todo - desde a educação básica até culminar no acesso ao ensino superior. Aspectos esses onde se contatam a necessidade de o poder público dispender um olhar humanizado, com vista a criar mecanismos através de políticas públicas afirmativa de inclusão para que crianças e jovens, possam almejar, através do acesso ao ensino de qualidade condições dignas de vida e laboral. A título ilustrativo podemos citar a política de acesso da Argentina que em regra geral o acesso à universidade não tem restrições e é gratuito, tendo somente como critério para ingresso ter concluído o ensino secundário.
      Por último, entendemos que enquanto a educação não seja considerado como prioridade, enquanto política de estado e ainda não rediscutir um sistema de livre acesso ao ensino superior em substituição ao atual sistema meritocrático que acaba privilegiando aqueles com maior poder aquisitivo, que o poder público através de suas IES PÚBLICAS organizem cursinhos sociais de forma gratuita, como já ocorre em alguns Estados da União, aliada, a ampliação dos programas de acesso, tais como o sistema de quotas raciais, SISU, PROUNI, entre outros.

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  2. Boa tarde!
    Primeiramente, minhas saudações Eder Rossato!
    Excelente trabalho, bem esclarecedor e aguçador, do ponto de vista crítico-reflexivo. Assim, dado o atual contexto pandêmico da Covid-19 e seus efeitos, qual sua visão sobre os cursinhos preparatórios on-line? Muitos disseminados durante o cumprimento do isolamentos social, é claro, viável para aqueles que detinham de condições e disposições específicas. Para além disso, como você percebe a questão dos cursinhos comunitários geralmente compostos por estudantes de baixa renda?
    Desde já, o agradeço!
    At.te.,
    Maykon Albuquerque Lacerda
    Graduando em História - UEMA/Campus Caxias

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    1. Maykon, muito obrigado pela participação e pela pergunta realizada, mesmo porque é muito pertinente ao momento atual, inclusive no campo da educação em geral.
      Dentro do contexto, entendo que durante a pandemia o segmento da sociedade que dispunham de maior poder aquisitivo e vinculados ao ensino privado, mais especificamente aos cursinhos pré-vestibulares, não sofreram tanto com os efeitos da pandemia no sentido do ensino-aprendizagem, já que dispunham das condições básicas e ferramentas para acessar o sistema Ensino Remoto e por via de consequência adequarem-se ao “novo normal”.
      Já quanto aos cursinhos sociais, por si só, por sua natureza não dispõe de recursos, pois, na sua maioria são atividades desenvolvidas através de trabalho voluntário. E, com a interrupção ou suspensão das atividades por força da pandemia as camadas mais vulneráveis ficaram ainda mais vulneráveis, pois, os cursinhos sociais, pelo que se conhece, não dispõem de recursos para e estrutura física e tecnológica para desenvolver suas atividades e, os alunos, por sua vez, não dispõem de equipamentos e acesso à internet de qualidade. Ficando assim sem condições e perspectivas para romper esse ciclo de vida que, normalmente, se repete por gerações.
      Tal disparidade de realidades, entre cursinhos privados e sociais, segmentos da sociedade com maior e com menor poder aquisitivo, respectivamente, podem também ser confirmados campo laboral. Para tal, cito, por exemplo, boletim divulgado pelo DIEESE – “Ocupados em home Office” (2020) no qual identifica-se o perfil dos trabalhadores, sendo: Negros - 34% e Não Negros - 66%; Escolaridade – 26% sem ensino superior e 74% - com ensino superior; e Propriedade de domicílio – 28% - sem casa própria e 72% - com casa própria.
      Assim, por analogia pode-se depurar que quem ter poder aquisitivo, pode receber uma melhor educação, acender acentos escolares de nível superior e por consequência têm maior empregabilidade e melhores salários.

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  3. Bom dia Eder, ótimo trabalho. Tema muito bem desenvolvido com uma discussão extremamente importante para nossa sociedade. É nítido que os vestibulares representam uma falsa meritocracia oferecendo processos seletivos que favorecem um grupo da população desde o Império. É possível relacionar o constante debate sobre as cotas com a elitização dos vestibulares?

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    1. pergunta da Paola Piantoni,
      estudante de História na Universidade Cruzeiro do Sul.

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    2. Paola, obrigado pela pergunta. Mas ao fim e ao cabo a grande discussão, o pano de fundo principal, no que se refere por exemplo as quotas raciais seja para o ingresso nas universidades e inclusive em concursos públicos, entendo, que não mais é do que uma tentativa de manter os “mecanismos que se apoiam na ideologia do branqueamento”. Inclusive, a título ilustrativo e relembrando o contexto político e social recente do Brasil, quando da aprovação da lei 12.990/2014 houve inúmeras manifestações contrário a instituição de quotas raciais para acesso ao ensino superior públicos – inclusive um partido político (DEM), cujo presidente é o ACM Neto da Bahia, impetrou com ação junto ao STF questionando a constitucionalidade da referida lei.
      Portanto, Paola, resta-nos alguns questionamentos sobre esse tema. Porque uma pequena parte da sociedade resiste em manter sistema meritocráticos que dificultam o acesso ao ensino superior? Ao responder a Marcia Arlinda da Silva, indicamos que a Argentina por exemplo permite acesso gratuito a todos os alunos que concluíram o ensino médio. Mas, será que no Brasil o racismo estrutural é tão brutal na prática que esses mesmos segmentos criam obstáculos para que grupos vulneráveis não acedam ao ensino superior, inclusive, através do sistema de quotas? E, infelizmente a historiografia sobre o tema nos demonstra que sim, o racismo estrutural está presente e latente desde nossa era colonial até os dias de hoje.

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  4. Meus parabéns! Trabalho muito bem escrito e com uma discussão muito clara!
    Gostaria de saber sua opinião, tendo em vista o tempo presente, e levando o contexto de pandemia que ainda estamos vivendo, você acredita que as dificuldades na educação e seu acesso reforçados com o ensino remoto, estas medidas meritocratocas podem ser reforçadas?

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    1. Caro Gilberto, infelizmente, no período pandêmicos acredito que as medidas meritocráticos ficaram mais acirradas para aqueles agrupamentos que a literatura classifica como mais vulneráveis. Pois é notório que em geral a educação pública carece de investimento robusto o e na pandemia esse cenário agravou-se e por outro lado os alunos, justamente por sua condição social, não dispunham de equipamentos e conexão a redes digitais para terem acesso ao ensino remoto. Assim o acesso ao ensino superior ficou mais distante ainda daquele aluno que não dispunha de condições financeiras, pois, no período pandêmico foram realizadas provas do ENEM e diversos vestibulares. Por conseguinte, quem teve acesso à educação nesse período, mesmo que remota, nessa corrida - largou na frente, muito à frente.

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  5. Meus parabéns! Trabalho muito bem escrito e com uma discussão muito clara!
    Gostaria de saber sua opinião, tendo em vista o tempo presente, e levando o contexto de pandemia que ainda estamos vivendo, você acredita que as dificuldades na educação e seu acesso reforçados com o ensino remoto, estas medidas meritocratocas podem ser reforçadas?
    Gilberto Dias de Abreu

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